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A Miserável Vida de uma Showgirl

“The Life of a Showgirl” é o 12º álbum de estúdio da cantora e compositora Taylor Swift. Desta vez, sem Jack Antonoff e Aaron Dessner, Taylor apostou em trabalhar, mais uma vez, com os grandes produtores Max Martin e Shellback, responsáveis por produzirem seus álbuns mais pop, como “1989”, “RED” e “Reputation”. Com uma estética mais inovadora dentro da sua própria discografia, comparada com os álbuns mais introspectivos que a artista vinha lançando nos últimos anos, a expectativa para essa era estava maior do que nunca exatamente pelo fato de que seus discos anteriores foram inteiramente mais monótonos, liricamente e esteticamente falando. No “Showgirl”, ela buscou o contrário, vestindo plumas e brilhos que chegam a ser vintage.

Apesar da artista sempre atrelar sua música à imagem que o álbum vai passar para seus fãs, dessa vez nada conversou. Parece que a cantora está exausta, nada mais soa como algo criativo ou cativante. Mesmo com o grande estrondo do álbum com o debut no Spotify, de ter ocupado o Top 10 inteiro da Billboard HOT 100 e pelas milhões de cópias vendidas na primeira semana de lançamento, é deprimente ouvir esse trabalho e ter a noção de que Taylor já lançou canções genuínas.

Ela abre o álbum com o único single até então, “The Fate Of Ophelia”, uma interpretação da obra Hamlet, de William Shakespeare, onde Ophelia entra num profundo estado de instabilidade mental e, logo depois, se afoga, colhendo flores que iriam morrer junto a ela. Essa canção funciona para uma abertura e é até ousado dizer que é o seu melhor lead single desde “Anti-Hero” (Midnights). Em primeira instância, você acredita que o álbum só está começando e que as canções só vão melhorando — mas essa não é a realidade. O álbum funciona apenas nos primeiros 3:46 minutos.

“Elizabeth Taylor”, segunda faixa do álbum, traz a cantora falando sobre suas emoções e seus problemas mentais na perspectiva da vida da atriz autointitulada na faixa. Ela fala sobre se ver na mesma posição que Elizabeth, que, para ela, é ser muito glamurosa e amada. Mas, infelizmente, a única coisa que foi mostrada aqui foi o declínio na qualidade, que não faz tanta justiça à memória da falecida atriz — desde o instrumental genérico até a composição meia-boca.

Terceira faixa, “Opalite” é uma canção pop-rock dos anos 70, quase inofensiva e grande aposta para as trends do TikTok. Essa tem um bom trabalho de guitarra, e a melodia também vai pelo mesmo caminho, o que quase a torna comparável à Carly Rae Jepsen. Mas, cara, a Carly não faria uma composição desengonçada dessas. Aqueles “Oh Oh Oh Oh” são possíveis de comparar com o barulho e chiado de um giz em um quadro.

“Father Figure”, quarta faixa. Aqui ela fez uma interpolação de uma canção de George Michael — sample muito preguiçoso, por sinal. Ela simplesmente discursa sobre os primórdios da carreira e a luta pelos masters da cantora. A música tem uma interpretação masculina na primeira parte, e é doloroso ouvir ela repetir mais de duas vezes que quer fazer acordos com o diabo porque “o pau dela é maior”. É apenas confusa essa figura paterna que ela retrata na faixa. E, por falar em confuso: por que diabos ela continua usando gírias de hip-hop nas músicas dela? É melhor parar — você não é boa nisso.

Agora em “Eldest Daughter”, a track 5 do álbum, a cantora tem uma longa relação com seus fãs, de sempre ter a necessidade de colocar uma canção mais emotiva e pessoal nessa posição… então temos a pior track 5 da carreira. Essa canção é vazia, nada nela cativa de verdade. Quem chorou ouvindo isso, no mínimo, deve ser um fã muito esforçado para seguir a “ordem” emocional que essa faixa tem dentro das loucuras do mundinho da cantora. É uma música sobre como a internet — que ela provavelmente não usa — é tão cruel nos comentários, e você não é fodona, mas é uma filha mais velha de um irmão que as pessoas nem lembram que você tem.

“Ruin The Friendship” é uma faixa em que a artista, mais uma vez, fala sobre seu colega de ensino médio, Jeff Lang, que, infelizmente, faleceu antes mesmo de Taylor ter a chance de se abrir para ele sobre seus sentimentos. Chega a ser bem mais comovente do que a track 5, que ganhou esse posto por “ser mais triste”. É interessante criar esse enredo na mente ouvindo a canção — antes de chegar ao plot da faixa, onde Taylor fala sobre seu amor nunca exclamado.

“Actually Romantic”, sétima faixa do álbum. É até engraçado notar que, até pouco tempo atrás, ela trazia pautas mais progressivas, como as de não “rivalizar mulheres” na indústria musical, para então fazer o que parece ser uma diss track muito mal feita. Isso com base na interpretação de uma “porta” que ela teve de “Sympathy is a Knife”, da Charli XCX — e isso é um bom exemplo do que mais irrita em todo esse projeto: é a perfeita síntese do que a Taylor vem se tornando como artista — um produto medíocre e sintetizado, calculado para se manter relevante com base em intrigas e análises parassociais da sua espetacular e interessante vida pessoal. É como se ela fosse mais uma empresária do que uma musicista, e essa faixa mostra perfeitamente isso.

“Wi$h Li$t” não funciona. Não é só a pior música da Taylor — é a pior música do universo. Minha única “lista de desejos” atualmente é não ouvir essa música nunca mais. Nesta música, ela mergulha em pessoas que anseiam por “luzes brilhantes e sombras Balenci”. Tipo, qual é, Taylor? Só está tudo bem para o seu círculo de elite de amigos MAGA ter tal mentalidade? Aqui é possível sentir a energia de “tradwife” que a Taylor está vivenciando. Ela canta sobre querer uma vida simples com seu futuro marido e seus filhos que se parecem com ele. Acho que a estética do álbum, de estar no palco como uma showgirl, simplesmente SOME por conta dessa canção.

“Wood” é, definitivamente, seu instrumental mais interessante em um tempo, combinado com letras. É importante pontuar que não precisava disso tudo para apenas falar sobre o tamanho do pau do Travis. Não é para a idade dela, mas a maioria das músicas aqui são tão infantil que isso recebe um passe livre.

“CANCELLED!” é tão desagradável quanto o título, com letras impressionantes como “ainda bem que eu gosto dos meus amigos cancelados”, o que leva a acreditar que Taylor está escrevendo letras de merda de cavalo de propósito. Como você pode escrever uma música como essa e não se sentir envergonhada? Como isso escapou do aplicativo de notas? Taylor, você nunca foi cancelada. As pessoas só querem que você pare de pilotar seu jato duas vezes por dia e ponto final. Mais uma coisa: essa música parece uma música do SNL.

“Honey” é a penúltima faixa do álbum, e ela é apenas uma música pop fofa e chata. Não adiciona nem dá nada ao álbum — de alguma forma, parece um descarte do álbum Lover, de 2019.

“The Life of a Showgirl” é a última faixa do álbum, com a participação especial da Sabrina Carpenter. É vazia no nível de dar preguiça discursar sobre. Consegue ser repetitiva para contar um enredo que a Taylor já escreveu antes. Para quem foi a The Eras Tour ou acompanhou, deve fazer sentido.

Como dito na introdução, apesar dos grandes números que essa nova era trouxe para Taylor Swift, o álbum não funciona. É como se “The Life of a Showgirl” fosse apenas isso: números. O álbum é entediante, e ela prova esse argumento em “Actually Romantic”. Além dos momentos que são descaradamente e obviamente desconfortáveis, grande parte do álbum também é simplesmente embaraçosa. A única coisa boa nesse projeto são os seus primeiros 3:46 minutos — e a única coisa que dá para se recomendar dentro das longas 12 faixas desse álbum.

Não é um álbum totalmente lixo; ele tem seus curtos momentos agradáveis. O problema é que esses curtos momentos bons são simplesmente estragados por algo ruim que acontece ao decorrer da ouvida. É como se a popstar estivesse cansada, e isso atrapalha totalmente sua criatividade. Ela veio com uma estética que conversa ZERO com as músicas. Cadê o jazz? Cadê a real definição de showgirl? É um lançamento decepcionante no geral. Talvez a espera fosse grande demais pelo glamour das fotos promocionais e do marketing, que fez qualquer pessoa pensar que Taylor sairia de sua zona de conforto.

Taylor Swift está cansada e chata no seu melhor, e genuinamente ofensiva no seu pior. Os poemas fantásticos se foram, e fomos deixados com uma bilionária branca de meia-idade tentando, ao máximo, convencer de como ela é “ruim”. Da próxima vez, no TS13, que o trabalho evolua no nível que sabemos que ela é capaz — porque, até então, ela só está servindo música para a família tradicional republicana.


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