Gritem o Nome Dela!

Florence + The Machine está de volta com mais 12 faixas do seu 6º álbum de estúdio. “Everybody Scream” é um álbum menos experimental do que a artista vinha apresentando e tem como temática o misticismo, onda que a artista já surfou nos seus trabalhos anteriores, agora com uma pegada mais sobre reconexão e intensidade emocional. Dessa vez trabalhando com Mark Bowen, James Ford, Aaron Dessner e Mitski, Florence promete comover o público com sua produção e composição que nasceram da dor e do sofrimento profundo.

O álbum gira em torto de um som de Rock Alternativo, com raizes do Folk contemporâneo. A atmosfera do disco o torna único, pois está em abundância do lirismo poético e se torna mais único ainda graças aos vocais poderosos da Florence Welch. Mas é importante pontuar que a produção soa um pouco repetitiva, apesar da sensação de magia que a faixa de abertura, também o primeiro single da era, traz para dentro do projeto.

A faixa título, primeiro single do álbum, nos oferece uma prévia da instrumentação artística, gótica e glam rock que está por vir, trazendo o questionamento como ela poderia se aposentar enquanto o público ainda clama por seu nome. “Everybody Scream” funciona como uma declaração ousada de que a Florence ainda tem muito a dizer e a provar, reafirmando sua presença no cenário musical. Chega a ser um pouco teatral por conta da entrega vocal da artista, o que deixa a introdução muito mais rica. 

No segundo single, “One of the Greats”, a cantora conta sua história e experiência de quase morte em 2023. Essa faixa traz elementos e misturas de um rock gótico e rock alternativo. Essa canção faz com que você sinta a sensação de como se fosse a primeira vez que você estivesse a ouvindo, independente de quantas vezes você a ouça. A faixa também tem a cantora e compositora Ethel Cain fazendo o backing vocal e é lindo o apoio que a Florence demonstra a ela nos últimos anos.

Na faixa “Witch Dance”, é possível perceber a artista usando uma metáfora para o sexo em meio a vocais profundos e assustadores, que evocam a presença da morte na canção. É transcendental a forma que a artista conduz a faixa para algo que pode ser chamado de espiritual. Os vocais finais também lembram um pouco Zé Ramalho, acho que uma colaboração entre os dois seria no mínimo interessante. 

Seu terceiro single “Sympathy Magic” elabora os custos que a fama traz, com uma pegada mais indie rock e art pop. É possível notar a melancolia e o misticismo nesta faixa no mais puro sentido, principalmente no trecho “e o vento que passa entre meus dedos é o único Deus que conheço”. É a consagração de uma de suas canções mais lindas, trazendo um sentimento de exorcismo emocional. A definição dessa faixa é que ela busca uma mulher sábia para um feitiço da mesma forma que uma pessoa buscaria um padre para uma oração. 

“Perfume and Milk” é a quinta faixa do álbum. Considerada uma canção mais folk, essa canção consegue ser um dos pontos mais altos de “Everybody Scream”. Ela se transforma numa atmosfera triste e melancólica se você parar para pensar que a vida continua e a natureza também, independente da situação horrível que você esteja passando, é como se tudo fosse um problema só seu pois para a natureza tudo continua. 

“Buckle” é a faixa que encerra a primeira metade do álbum. Essa canção tem a participação da cantora Mitski na composição e na produção, com Mitski responsável por tocar o violão que dura a música inteira. É uma música que fala sobre memória e o peso que ela pode ter, além de tratar também sobre haver beleza em seguir em frente e a sétima faixa do álbum, “Kraken” é uma canção indie rock, podendo ser descrita como um grito do fundo da alma. É uma canção que busca um significado. 

“The Old Religion” é a oitava faixa do álbum. Nela, Florence canta sobre sentir um instinto selvagem despertando dentro de si. Como se fosse uma dor, mas uma dor tão intensa que até respirar se tornasse difícil. A canção se destaca como uma das melhores de toda a carreira da artista, com a espiritualidade tomando conta e a sensação de que gritar que se torna uma necessidade física. 

Chegando quase à etapa final do disco, encontramos “Drink Deep”, uma faixa que se destaca por oferecer uma experiência quase extracorpórea. Há algo de transcendental em sua sonoridade, como se a artista se desconectasse do próprio corpo para mergulhar em um estado de consciência superior. As sensações de sobrenaturalidade se misturam com a ideia simbólica de “beber a si mesma”, como se ela estivesse absorvendo suas próprias emoções, dores e memórias em um ritual de purificação. É a definição do que Stevie Nicks faria.

“Music by Men” é a décima faixa do álbum, nela é possível perceber um olhar feminista vindo da Florence diante de todas as vezes em que o mundo tentou moldar ou silenciar sua visão artística. A canção funciona como uma resposta firme e poética a esse controle, reafirmando sua autonomia criativa e sua identidade como mulher dentro da música. Ao mesmo tempo, há uma delicadeza que atravessa a faixa, ela também fala sobre a capacidade de se apaixonar, sobre o encanto imediato que sente pelas pessoas. Essa dualidade faz de “Music by Men” uma das composições mais humanas e sinceras do disco. 

Penúltima faixa do álbum, “You Can Have It All” também abraça um som voltado ao art pop, revelando uma nova perspectiva emocional da Florence sobre ter estado equivocada sobre sua própria compreensão da tristeza ao longo de toda a vida mas que apenas nos últimos dois anos passou a enxergar com clareza.

E para encerrar o álbum, temos “And Love”, uma canção que transmite a sensação de finalmente alcançar a paz. É uma das composições mais sensíveis de Florence, não pela tristeza, mas pela delicadeza com que ela traduz a serenidade após o caos. A faixa soa como um suspiro de alívio, como se toda a angústia acumulada ao longo da jornada se dissolve, transformando-se em cura e aceitação.

Esse disco é uma experiência mística, religiosa, transcendental, poética e exorcista. É um álbum que poderia ter sido bem mais trabalhado, mas que sua entrega consegue ser o suficiente. “Everybody Scream” começa no caos, na angústia, na vontade de gritar e termina com a sensação de que você está purificado. 

Em tempos que a música anda tão pobre do lirismo poético, Florence vem na contra mão e mostra que ainda há sim o que mostrar. O disco funciona mais se você pegar para ouvi-lo em sequência pois as canções sozinhas podem parecer desconectas. Isso se concretiza ao ouvir “Music by Men” “You Can Have It All” e “And Love” uma atrás da outra. 

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